quarta-feira, 29 de agosto de 2007



Qual o futuro da Bomba Atomica?

'Agora eu me tornei a morte, a destruidora de mundos.' Com essa citação literária, o físico americano Robert Oppenheimer saudou o cogumelo de fogo que brilhou às 5h30 da manhã no deserto no Novo México, no dia 16 de julho de 1945. A explosão assinalava o sucesso da missão que consumira todos os momentos da vida do físico durante três anos: a produção da primeira bomba atômica.
Mas a frase sinistra, pinçada do livro religioso hindu 'Bhagavad Gîta', denunciava a mistura de sentimentos entre os participantes do projeto Manhattan, o programa de armas atômicas que o governo norte-americano desenvolveu durante a Segunda Guerra. O objetivo do projeto, que custou US$ 20 bilhões e mobilizou 140 mil pessoas, era criar um artefato tão destrutivo que fosse capaz de encerrar o conflito. Em 6 e 9 agosto de 1945, os dois protótipos construídos foram jogados sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. O número de vítimas chegou perto dos 140 mil, o governo japonês foi forçado a solicitar um armistício e a Segunda Guerra Mundial realmente chegou ao fim.
As duas explosões assinalaram também um começo, o da era dos arsenais atômicos. Em 1949, para contrapor-se ao poderio americano, a URSS realizou seu primeiro teste nuclear, e deu início à Guerra Fria. A partir de 1991, com o fim da URSS, Rússia e EUA deram início a um processo de aproximação diplomática, e a confrontação ficou para trás. Mas as armas atômicas ficaram. Hoje somam perto de 30 mil, sendo que 97% pertencem a russos e americanos.
Seis décadas após o bombardeio de Hiroshima, perguntar pelo futuro dos arsenais nucleares traz respostas bem incômodas. 'A maior parte das pessoas não se dá conta, mas hoje o mundo vive um momento crucial no que tange às armas atômicas', diz Graham Alisson, diretor de um centro de pesquisas de relações internacionais em Harvard. No cerne do problema estão as dificuldades por que passa o tratado internacional de não-proliferação de armas nucleares. 'O cenário que parece mais provável é um mundo onde o número de países detentores de armas atômicas cresce rapidamente.' Robert Einhorn, autor do livro 'The Nuclear Tipping Point' (algo como 'o ponto de mudança nuclear') faz uma previsão parecida: 'Vejo duas alternativas quanto à posse de armas atômicas em nosso planeta para daqui a 60 anos. Ou o número de estados atômicos será bem menor, e terão menos armas, ou será bem maior, e terão muito mais armas'.

Paradoxalmente, na origem da tecnologia atômica está um dos períodos mais cooperativos e internacionalistas da história da ciência: a pesquisa sobre a estrutura da matéria no começo do século 20. A descoberta do nêutron, em 1932, multiplicou os estudos e de certa forma acelerou o ritmo dos acontecimentos. Mas já em 1914 o escritor inglês H.G. Wells antevia em seu 'O Mundo Libertado' uma Europa dotada tanto de fábricas movidas a energia atômica quanto de bombas poderosas que utilizariam o mesmo princípio, e que seriam usadas numa guerra devastadora por volta de 1956. Para os físicos era claro que a energia atômica desempenharia um papel importante no destino da humanidade a médio prazo. A década de 1950, estipulada por Wells, parecia um prazo razoável para que se dominassem todos os segredos da área. Mas o encontro da física de ponta com o moderno aparato militar, propiciado pela Segunda Guerra Mundial, mudaria a história para sempre.


Nas primeiras décadas do século 20, os estudiosos da estrutura da matéria formavam uma comunidade internacional bastante unida: compartilhavam os resultados de suas descobertas e visitavam os laboratórios localizados na Alemanha, Inglaterra, França, EUA, Itália e Dinamarca para aprender uns com os outros e fazer experimentos.
Tamanho cosmopolitismo destoava muito do sectarismo e do senso de rivalidade que permeava a Europa após a Primeira Guerra Mundial, e tal diferença era motivo de orgulho para a comunidade científica. Ao mesmo tempo, a colaboração internacional impedia que o conhecimento se tornasse propriedade exclusiva de um só país, o que também era visto como algo positivo.

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